DS #174 –Leituras do Antifascismo: “A Alemanha à espera”: Simone Weil

Quarto episódio da série “Leituras do Antifascismo - gente que interpretou o fascismo enquanto o encarava (1915-1944)” com o Historiador André Nicacio Lima (Godinho). O presente episódio será:

A Alemanha à espera”: Simone Weil

Referências:

Simone Weil - “A Alemanha à Espera” (1932)

Simone Weil - "O Desenraizamento" (1943)

"Em termos globais, os operários hitleristas são corrompidos por participarem desse movimento muito menos do que se poderia esperar. O sentimento que os domina é um ódio violento pelo 'sistema', como dizem, ódio que se estende também aos social-democratas, considerados os mantenedores do regime, e também pelos comunistas, acusados de conluio com a social-democracia; pois os operários hitleristas, que se julgam engajados num movimento revolucionário, se espantam sinceramente com o fato de que os comunistas se queiram unir aos reformistas, contra eles. [...] Na verdade, o que os conduz ao movimento nacional-socialista é, como para os intelectuais e pequenos burgueses, o fato de que eles sentem ali uma força. Não notam que essa força só aparece tão poderosa porque não é a força deles, porque é a força da classe dominante, seu inimigo capital; e contam com essa força para suprir sua própria fraqueza, e realizar, não sabem como, seu sonho confuso.

Os social-democratas, pelo contrário, são gente razoável, que a situação ainda não reduziu ao desespero, e que se recusa a lançar-se em aventuras. Isso significa que a social-democracia, embora conte em suas fileiras com pequeno-burgueses e desempregados, se apoia principalmente nos operários que trabalham. Estabeleceu seu domínio no decorrer de anos de prosperidade e principalmente por intermédio dos sindicatos, cuja ação apenas secundou o Parlamento. Os sindicatos reformistas que contam com quatro milhões de membros, que têm nas mãos o pessoal dos serviços públicos, dos ferroviários, das indústrias-chave, durante o período da alta conjuntura cumpriram admiravelmente bem sua tarefa, ou seja, dirigir o melhor possível a vida dos operários dentro do quadro do regime. Caixas de socorros, bibliotecas, escolas, tudo foi realizado em proporções grandiosas, instalado em locais que davam provas da mesma prodigalidade louca que, nessa hora, dominou os capitalistas. Às organizações assim modeladas no desenvolvimento da economia capitalista, em seus períodos de estabilidade aparente, naturalmente se ligaram à força que faz a estabilidade do regime, ao poder do Estado. Assim, por um lado, elas se ligaram a um partido parlamentar, e a um partido que foi até às mais extremas concessões para permanecer na maioria governamental; e, por outro lado, se abrigaram atrás da lei aceitando o princípio da 'tarifa', ou seja, dos contratos de trabalho com força de lei e arbitragem obrigatória. Veio a crise. Os capitalistas se serviram dos princípios das tarifas para contestarem os salários. Mas, quanto mais a economia capitalista era sacudida pela crise, mais as organizações sindicais, que, como sempre acontece, vêem o fim supremo em seu próprio desenvolvimento e não nos serviços que podem prestar à classe operária, se refugiaram medrosamente atrás do único elemento de estabilidade: o poder do Estado. Ficaram praticamente inertes: os sindicatos que participavam das greves ditas 'selvagens', isto é, não autorizadas pelas organizações, eram expulsos.
Chegou o 20 de julho, o golpe de Estado que subtraiu brutalmente à social-democracia o que lhe restava de poder político [...]"

Simone Weil, "A Alemanha à espera" (impressões gerais de agosto e setembro - 1932).

Trilha:
The EX - Ay Carmela! Viva la Quinta Brigada
Banda Bassotti - El quinto regimiento
Canallas - Si me quieres escribir
Stage Bottles - Sometimes antisocial but always anti-fascist


Background (BG)
Rolando Alarcon - Ay Carmela! Viva la Quinta Brigada


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