Cartola, o "divino"
Cartola
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- Nesta semana, de 06 a 12 de outubro, nós lembramos do nascimento de Romero Brito (06), Mário de Andrade e John Lennon (9), Verdi e Thelonious Monk (10), Tom Zé, Lobão e Jorge Vercillo (11) e Luciano Pavarotti e D. Pedro I (12).
- Nossa coluna vai homenagear, com muita honra, aquele que é considerado um dos maiores sambistas da história do Brasil, na opinião do grande Carlos Drummond de Andrade, um “mestre da delicadeza”, conhecido como “o Divino”, o poeta das rosas, o saudoso, Cartola.
- Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, nasceu no dia 11 de outubro de 1908, há 111 anos, noRio De Janeiro, então capital do Brasil, no bairro do Catete, e morreu em 1980 no mesmo Rio de Janeiro. Filho de operário, morou em diversos bairros do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. Aos 11 anos, dificuldades financeiras levam a família a se transferir para o Morro da Mangueira, onde, ainda jovem, Cartola é iniciado no samba e na boêmia pelo seu amigo Carlos Cachaça, seis anos mais velho, que se torna um dos seus mais constantes parceiros
- Muito cedo abandona a escola para trabalhar, e exerce várias profissões, de aprendiz de tipógrafo a servente de pedreiro. O apelido Cartola surge nessa época, trabalhando em construção e para evitar que o pó do cimento lhe caísse sobre a cabeça, passa a usar um chapéu-coco, que orgulhosamente chama de cartola. Aos 15 anos perde a mãe.
- O pai desaprova sua vida boêmia, expulsa-o de casa e muda-se do Morro da Mangueira, o compositor ali permanece. Vive pela noite do subúrbio carioca, até ser acolhido por Deolinda, uma senhora que mora na Mangueira e passa a cuidar dele. Sem trabalho, começa a compor e a cantar nos bares do morro.
- Torna-se figura cativa nas rodas de samba e da boêmia, e ensaia suas primeiras composições e acordes no violão. Participa da fundação de um bloco para brincar o Carnaval, o Bloco dos Arengueiros. Além de Cartola, outros "arengueiros" como Arturzinho, Carlos Cachaça, Zé Espinguela, Saturnino, Homem Bom, Gradim e o irmão Antonico integram o núcleo inicial do qual surge a Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira, fundada em 28 abril de 1928. Tanto as cores, verde e rosa, quanto o nome são sugestões de Cartola. No desfile inaugural, a escola apresenta um samba de sua autoria, Chega de Demanda.
- Mesmo sendo reconhecido como um mito vivo da música brasileira, tido suas composições gravadas por intérpretes famosos, apenas em 1974, com mais de sessenta anos, Cartola gravou seu primeiro LP individual, com o qual recebeu vários prêmios e passou a fazer shows em todo o país. O segundo disco veio em 1976 e com ele o grande sucesso da música “As rosas não falam”.
- A obra de Cartola tem significado especial na narrativa da evolução do samba. Estilo inconfundível de suas harmonias, melodias e letras traduz a poética do trovador da Mangueira, que, sozinho ou em parceria, com Carlos Cachaça, Elton Medeiros, Nuno Veloso, Hermínio Bello de Carvalho, influencia novas gerações de sambistas, em especial, Paulinho da Viola. Suas composições atravessam décadas e se atualizam a cada regravação. Cartola viveu em uma época em que a música brasileira estava muito atrelada à poesia e o lirismo da composição literária.
- Vejamos o exemplo de As Roas não falam:
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
- Neste mundo veloz, cada vez mais rápido, onde o tempo é escasso, neste mundo violento, ultraburocrático e ultratecnocrata, que possamos cada vez mais buscar tempo para apreciar a poesia e a música. Afinal, como dizia Nietzsche, a vida sem música, seria um erro.