Cecília Meireles, a voz lírica feminina do Brasil
Cecília Meireles, a voz lírica feminina do Brasil
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- Nesta semana, dia 06 de novembro, gostaríamos de lembrar o nascimento do escritor Robert Musil, Marie Curie, Ary Barroso e Albert Camus (dia 7), Carl Sagan (dia 9) e Martinho Lutero e Schiller (dia 10), mas o tema de nossa coluna é aquela que é uma das mais importantes vozes líricas da literatura em língua portuguesa e primeira voz feminina de grande expressão da literatura brasileira, a grande Cecília Meireles.
- Cecília Benevides de Carvalho Meireles, nasceu no Rio de Janeiro, dia 07 de novembro de 1901, há 118 anos e faleceu, de câncer dia 09 de novembro de 1965, dois dias depois de fazer 63 anos, também no Rio de Janeiro. Ela foi uma jornalista, pintora, poeta e professora brasileira.
- Foi criada pela sua avó católica e portuguesa da ilha dos Açores. Isso porque seu pai havia morrido três meses antes de seu nascimento e sua mãe quando tinha apenas 3 anos.
- Desde pequena recebeu uma educação religiosa e demonstrou grande interesse pela literatura, escrevendo poesias a partir dos 9 anos de idade.
- Sua estreia literária aconteceu em 1919 com o livro “Espectros”, reunião de sonetos escritos a partir de 1915. Sua obra mais conhecida é o épico “Romanceiro da Inconfidência”, de 1953.
- Embora cronologicamente vinculada a segunda fase do modernismo brasileiro, sua obra poética traz influências simbolistas, românticas barrocas e parnasianas, destacam-se: “Nunca Mais” (1923), “Poema dos Poemas” (1923), “Baladas para El-Rei” (1925), “Viagem” (1939), “Vaga Música” (1942), “Mar Absoluto e Outros Poemas” (1945), “Retrato Natural” (1949), “Doze Noturnos da Holanda” (1952), “Poemas Escritos na Índia” (1950), “Metal Rosicler” (1960), “Solombra”(1963).
- Sobre ela escreveu o crítico Paulo Rónai: “Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo. A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea”.
- Eu não canso de repetir o quanto eu aprecio poesia e o quanto o mundo precisa dela, a cada dia mais. Com uma realidade a cada dia mais dura, mais complicada, mais rápida, mais acelerada, com muitos precisando de auxílios químicos para manter a saúde e a sanidade mental. Vivemos tempos sombrios, de medo, de ódio, de intolerância…
- Quem precisa da poesia? Uma frase do filme “O carteiro e o poeta” de 1994 nos diz que “A poesia não é de quem a escreve, mas de quem precisa dela” e nunca o mundo, desiludido e pós-moderno, precisou tanto dela. Termino com os versos de “Motivo”, poema de Cecília contido no livro “Cecília Meireles — Poesia Completa”, editora Nova Fronteira.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.